segunda-feira, 15 de março de 2010

Ainda sobre cotas... Respondendo aos amigos e colegas...

Em meio aos belos discursos dos colegas sociólogos atrevo-me a adentrar tal salva, provocado pela miríade de discussões... uma verdadeiro "jogo de cava-lheiros"... Apensa tenho medo com certo essencialismo presente em alguns dis-cursos que envolvem esse tipo de mídia eletrônica... E deparo-me com o que Bourdieu dizia sobre não se poder pensar na urgência... Também nao vejo pro-blemas em se sair do foco proposto por determinado autor, como bem destacou David, e penso que Cadu e Flaubert caíram, com sua trocas de "tapas com luva de pelica" numa tentativa de ver quem gritava mais alto... Atitude infantil, espe-cialmente vindo de dois caras tão maduros intelectualmente, pelo menos compa-rados com uma maioria de nosso colegas de profissão... Mas adentremos ao de-bate...


A exemplo de Flaubert,concordando com David sobre a urgência do assunto, quero pensar sobre as cotas para negros, pretos, afro-alguma coisa... Aprovei-tando que sou, segundo Edmilson - em sua leitura de Atlântico Negro - um "ne-gro sem etnicidade", quero listar um pouco de como tem se dado essa discus-são... De um lado estão aqueles que são contra a política de cotas, ressaltando pontos como os listados no Folhetim de Ali Kamell - "Querem nos transformar em uma nação bicolor", do outro parecem estar os que advogam o tema das cotas falando de uma estaparfúdia "divida histórica", até pq como bem rebateu Marcos Nobre, o Brasil teria de pagar sua divida com todos...

Sou defensor da política de cotas "raciais" não por qq divida... mas como uma ferramenta emergencial e necessária... Penso que exista um caráter mt mais sim-bólico do que econômico e social... Sendo um negro sem etnicidade não repre-sento a maior parte das pessoas que se identificam com essa categoria política - q de acordo com o (s) movimento (s) negro (s)teria sido a união dos "pretos" e da estranha e "tipicamente brasileira" categoria dos "pardos" já que as semelhanças socioeconômicas dos dois grupos justificaria tal estratégia... Fico com os contrastes visuais q me deparo, por exemplo, quando adentro o ameaçado de ex-tinção RU da UFRN, sem me preocupar em classificar uma escala de cores... percebo que a maioria de negros (moreninhos como gosta de chamar a maioria natalense) são os africanos, filhos das classes altas de seus países (pelo menos em sua maioria)... Entrarão os pretos de classe média? Devem ser muitos para que isso aconteça, não? O problema brasileiro sem duvidas está na naturalização de uma desigualdade social que não se limita a cor da pele, mas será muita ingenui-dade acreditar q este fator - Sim, a cor - n influencie em maiores dificuldades, maiores barreiras impostas por estigmas sociais q nos aparecem "inocentemente" em piadas e apelidos...

Isto nao cria estratégias de deslegitimação moral que desencadeiam em disposi-ções que nao se coadunam com as exigidas por uma perspectiva de sucesso? A preconceito "racial" não é potencializado pela pobreza social? O preto pobre não será estigmatizado mesmo dentro de seu bairro, que na maioria das vezes será de classes populares? Ora, o caráter das cotas deve ser temporário, e me parece ser esta a proposta... Dirão que as cotas "raciais" apenas reforçam os estimas de in-capacidade... Já perguntaram o que pensam os que se auto-identificam negros? Já se pensou o que significa do ponto de vista simbólico ter alguém da família adentrando uma universidade? Isto nao mudará nada? Talvez esteja enganado, sendo ingênuo ou tendo a profundidade de um pires... Mas penso que o caráter necessariamente transitório que devem representar as cotas não serve p a idiotice teórica de se pagar qq divida do passado... Mas por 'tratar desigualmente os de-siguais', e nessa cruel pirâmide de nosso "país bizarro" os pretos me parecem na rebeira... Diga-se de passagem expressões populares como "amanhã é dia de branco" qd mts se referem que o dia seguinte é o dia de trabalhar, de "pegar no batente"... Isso n tem impacto sobre uma maioria de supostos vagabundos, ne-gros pobres? Tal visão cristalizada, entranhada na forma de se ver o mundo nao irá reforçar as desvantagens de nossa desigualdade social... OU isso ou vamos voltar a defender a meritocracia...
Saudações...

Um comentário:

  1. Olá Gil, as cotas sociais dariam o mesmo resultado que as raciais com a vantagem de não estimularem a identidade racial.

    Ao meu ver, a única identidade étnica/racial benéfica (e de certo modo verdadeira) seria a: brasileira.

    Qualquer outra identidade é incompleta tanto do ponto de vista genético, quanto cultural.
    Isso por um motivo muito simples, somos um novo povo (nem europeu, nem africano e nem indígena).


    A política de cotas implanta pelo governo Lula chega ser irresponsável, ao meu ver, uma vez que desconsidera a existência do mestiço (o brasileiro de fato).
    Para os pensadores das cotas, a mestiçagem é algo ruim pois dilui a negritude existente em cada mestiço. Nesse pensamento racista, o moreno é um negro com vergonha de ser negro, e portanto precisa negar-se como mestiço e aceitar-se como africano (ou melhor dizendo afro-brasileiro).

    Esse discurso, importado dos Estados Unidos da América, e portanto fora de nossa realidade, chega a ser ainda mais doentio quando levado a estados do norte do Brasil, como o Pará, onde a componente que torna a pele parda é predominantemente indígena e não africana, mas mesmo assim eles estão sendo estimulados a se considerarem AFRO-descendentes.

    Isso tudo me soa como vingança, uma vingança sendo aplicada no tempo errado e contras as pessoas erradas. Essa minha desconfiança se torna ainda mais forte quando lembro que a ex-ministra da igualdade racial, Matilde Ribeiro, só contratou um único branco para trabalhar no seu ministério (ele era varredor), TODOS os demais funcionários eram negros.
    Além disso, ela mesma afirmou que não há problemas quando um negro se insurge contra um branco!

    Veja ai, o que pensam os idealizadores/executores da política de cotas raciais no Brasil.

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